segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Direitos humanos não são o mesmo que direitos trabalhistas. Ao contrário.

Há uma profundidade em Marx, dificilmente alcançada até mesmo por muitos marxistas, que exige, como categoria cognitiva, a diferenciação entre direitos humanos (liberais e burgueses) da esfera da circulação e os direitos concretos dos reais produtores, dentro da esfera da produção. Não é por acaso que os direitos individuais pregados pelos liberais se circunscrevem à esfera do mercado, onde os trabalhadores praticam a circulação simples enquanto os capitalistas praticam a circulação ampliada das mercadorias. Há um abismo histórico e material entre ambas.
Os direitos humanos são visíveis e negociáveis na arena e na ágora abertas e iluminadas do "mercado" e são passíveis de negociação por estas mesmas razões.
Os direitos dos produtores estão, por outro lado, na esfera oculta da "linha de montagem" da mercadoria, nas relações duras, ásperas e insalubres, que consomem, para além das consciências e das culturas, a carne, os ossos e os músculos dos que vivem no chão da fábrica.
Marx viu, neste jogo duro de ação e produção, a verdadeira origem da alienação e da mais-valia.
A ordem democrática burguesa, que enaltece os direitos individuais, abstratos e mercantilizados, negociáveis em assembléias, evita, por meio deste jogo, a revelação da ditadura absoluta que submete, para além da usurpação das consciências dos trabalhadores, a exploração dos reais produtores e das exigências materiais sob as quais são submetidos.
De toda a produção é que os valores surgem. Somente na produção os direitos podem ser concretos.
Precarizar os produtores é somente uma tentativa de estender a agonia da crise da produção de Valor.
A democracia é um arremedo do livre mercado da negociação dos direitos enquanto perpetua, porta adentro das casas, fábricas e fazendas, na esfera profunda da produção, a ditadura da propriedade privada.
Há algo de novo sob o Sol.
E não é boa coisa.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Universo como simulação. Uma ideia estúpida.

A razão de o universo não ser uma  simulação é por demais simples e óbvia.
Podemos especular sobre as dimensões necessárias do simulador, seu consumo de energia e sua construção e empurrar a questão para a esfera metafísica onde o problema da existência do simulador se torna um problema maior do que a existência do universo.
Mas temos uma prova mais ordinária de que o universo não é uma simulação, como segue:

O valor irracional do número Pi, 3,1415926... em nosso universo é uma prova de quem não vivemos em uma simulação. Todas as simulações que temos sido capazes de produzir sempre limitam o número de casas depois da vírgula de acordo com a capacidade de processamento (ponto flutuante).
A precisão é necessária para a simulação e esta deve ser, portanto, finita, bem definida. Deve ser delimitada.
Nenhum sistema que assume o número Pi com seu valor infinitamente irracional, com suas infinitas casas decimais (casas depois da vírgula), pode ser computável.
O universo não é uma simulação.
Ponto.

domingo, 30 de junho de 2013

O surgimento da estratégia do boicote como arma política.

Talvez a forma de ação mais efetiva que poderá emergir das manifestações populares organizadas na internet, por meio das redes sociais, - e penso inevitável seu surgimento – venha a ser os boicotes gerais ou específicos.
Os boicotes são uma forma muito eficaz de mudar os comportamentos das empresas e governos.
As greves provocam a paralisação da produção e dependem do grau de organização dos trabalhadores, são a sua arma política. Ao parar a produção, a greve ameaça a a saúde econômica das empresas em põe em xeque a geração de lucros.
Nas sociedades onde a massa de empregados no trabalho produtivo diminui pela intensificação das tecnologias, o mesmo não ocorre do lado do consumo.
O boicote produz o mesmo efeito pelo lado do consumo. E provavelmente um efeito muito mais devastador porque todos são consumidores em uma sociedade onde uma minoria é produtiva em termos industriais.
O boicote pode ir muito além da mudança de comportamentos dos agentes econômicos, levando-os até mesmo, no extremo, à bancarrota.
Quanto mais se expande o número de consumidores com acesso às redes sociais, maior se torna a possibilidade destes se organizarem para impor seus direitos afetados pelas decisões corporativas.
A cidadania que amadurece dentro destas redes irá limitar cada vez mais o raio de ação dos interesses privados, confrontando-os em seu aspecto mais vulnerável, o lucro.
Mais que uma tendência, o boicote se constitui na mais poderosa arma de ação e transformação política.

As crises da sociedade. As sociedades como crise.

A crise ambiental, a crise energética, a crise social, a crise econômica, a crise financeira, a crise moral, todas estas crises, são fenômenos derivados da grande crise que é o desarranjo energético da sociedade da mercadoria, que por sua vez é uma crise da humanidade e da biosfera.
As formas sociais que esta sociedade assume escamoteiam em grande medida esta crise de maior amplitude que é o desarranjo energético da biosfera por uma de suas espécies, a nossa, mas não do planeta.

Aqui devemos separar ambos pois se a biosfera é dependente da existência do planeta, o inverso não é verdadeiro. A história geológica da Terra está relacionada com a história da vida sendo esta um processo superficial e acessório de certos fenômenos geológicos.
A história do planeta é a história de seu resfriamento até o limite extremo do total congelamento do núcleo em um futuro distante. A Terra está esfriando e assim continuará movendo continentes, gerando cadeias de montanhas e vulcões até o esgotamento da sua energia interior.

A biosfera se ocupa de interferir marginalmente neste processo planetário seguindo os ritmos ditados pelos ciclos astronômicos e suas variações, pela crescente irradiação solar e pela entropia errática do núcleo do planeta. Dentro deste quadro, a biosfera é secundária e permanecerá enquanto esta condições maiores estiverem presentes, nos termos de sua sustentação. Há um fluxo médio de energia que deriva destas condições e a vida tem variado e se adaptado às mudanças deste processo, mesmo que não isento de sobressaltos e ameaças de destruição. A extinção da imensa maioria de todas as espécies vivas é testemunho disto. Não há espécies melhores ou piores. Há apenas espécies sobreviventes destes acidentes de maior escala.
Isto posto, onde se situa a humanidade neste cenário?

As sociedades humanas ainda são construções materiais, concretas e objetivas, produtivas e degenerativas energeticamente, da história da ignorância de uma espécie humana que emergiu apenas recentemente da inconsciência gregária dos mamíferos. E assumem uma forma de patologia anti-natureza no impulso de sua perpetuação.
A patologia se manifesta porque estas sociedades também são construções culturais e abstratas, que refletem e projetam a ignorância das condições materiais que lhes sustentam e das quais se originaram.

O que talvez seja mais humilhante ainda, frente a presunção de nossa inteligência autoconsciente – porque há muitas outras inteligências inconscientes – é que talvez venhamos a ser apenas mais um experimento falho a se somar a extensa lista de espécies extintas.
A biosfera não comporta a humanidade tecnológica nos termos impostos pela sociedade da mercadoria que produz, em última instância, lixo, resíduos de uma entropia acelerada. Os ciclos naturais não suficientes para tratar desta sobrecarga artificial que se acumula no ambiente.
É a crise da sociedade da mercadoria que é, por sua vez, a crise da humanidade vista como uma desarranjo energético. Uma aceleração da entropia natural do ambiente.
A produção do lucro requer a existência de uma máquina produtora e consumidora de mercadorias que nos absorve e nos isola em suas entranhas, e que aumenta o consumo das reservas energéticas muito acima da sua capacidade natural de recomposição. A Sociedade da acumulação e do lucro é uma crise em si mesma deste ponto de vista.
A mobilização de recursos na biosfera para a (re)produção desta sociedade doentia, desta “febre”, assume um aspecto ainda mais patológico quando move estas engrenagens em benefício não apenas uma espécie, mas em benefício de pequenos grupos ou mesmo espécimes particulares desta espécie. O lucro e a riqueza pessoal dentro desta sociedade é o ápice e o vértice mais visível – e contraditoriamente reforçado culturalmente - de toda esta profunda disfuncionalidade destruidora.
Somente uma espécie doente pode produzir uma sociedade doente. E somente uma sociedade doente pode produzir tantas patologias metafísicas ao ponto de conferir supremo valor mítico e mistificado de um simulacro de sua natureza, representados e enfeixados numa abstração:
O indivíduo, versão semi-deificada do membro alfa do bando.
O presente estado das sociedades da mercadoria se traduz também em um roubo do futuro, via desarranjo ambiental, quebrando por antecipação o ritmo natural dos ciclos do ambiente.  
Ao aumentar geometricamente a população humana através do consumo e produção de mercadorias, realizado por máquinas que usam energia fóssil em ritmo e escala muito maiores que as que ocorrem naturalmente, estamos trazendo para o tempo presente os que deveriam nascer, dados os processos energéticos da biosfera, no futuro. Estamos antecipando as gerações e com isso estamos acelerando a nossa extinção quando desarranjamos a biosfera.
A sociedade da acumulação em sua reprodução também acumula uma enorme quantidade de resíduos e lixo. A manutenção desta ordem social se reverte em desordem acelerada do seu entorno, para além de suas fronteiras.

No modo atual como estabelecemos e organizamos nossas sociedades produtoras de mercadorias neste planeta, tornamo-nos ameaça à biosfera e a nossa própria sobrevivência.
Caso insistamos neste caminho, certamente a biosfera prevalecerá.
Já sobreviveu a crises maiores que as que eventualmente possamos produzir. O inverso ainda não é verdadeiro e provavelmente nunca será.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifesto pela Democracia Real

Manifesto pela Democracia Real


A humanidade está vivendo um tempo sem precedentes.

Pela primeira vez o planeta torna-se um só lugar, pequeno e conhecido.
Suas diversidades naturais, sociais, culturais, climáticas, geológicas, biológicas só fazem sentido como partes de um todo indivisível, insubstituível e único.

O poder que decide o destino destas diversidades também deve ser único sem ser governo nenhum.

Somente a REDE MUNDIAL DE PESSOAS - INTERNET - pode conter todas as diversidades e permanecer, por sua própria natureza, una.

Somente a INTERNET tem legitimidade para decidir todas as questões da VIDA em todas as suas formas.

Todos os seres humanos têm o direito de se conectar à INTERNET e nela participarem das decisões de sua comunidade local, regional e planetária.

A INTERNET não reconhece como legítima nenhuma outra forma de poder que não ela mesma.

A INTERNET tem o compromisso de propagar a si mesma estendendo o seu alcance sobre todo o planeta, fornecendo os meios e tecnologias necessários para que todas as pessoas de todos os lugares possam conectar-se a ela.

Todas as pessoas atingem o status de cidadãos do mundo quando integram a INTERNET , nela votando todas as questões, matérias, orçamentos e projetos de quaisquer natureza.

A INTERNET dispensa toda e qualquer forma de representatividade política uma vez que a cidadania é inalienável, individual e instantânea.

Nada em qualquer parte do mundo pode ser feito sem que a INTERNET saiba ou aprove. Portanto, nenhum outro interesse, individual ou grupal, privado ou público pode estar acima dos interesses da INTERNET .

A INTERNET proverá aos seus membros todas as informações e meios de difusão necessários para o mais completo conhecimento sobre todos os assuntos, estando desde já abolidas todas as formas presentes e futuras de censura.

A INTERNET é guardiã e depositária de toda história e cultura humanas, de todo conhecimento científico e tecnológico, artístico e espiritual e é seu dever ampliar permanentemente o conjunto destas informações.

A INTERNET tem o dever de divulgar ampla, aberta e irrestritamente todo o conhecimento passado, presente e futuro para que todas as pessoas possam desenvolver seus potenciais.

segunda-feira, 18 de março de 2013

O universo em uma folha de papel.

Imaginemos uma folha de papel, mas um papel especial que não tem espessura.
Fora esta particularidade, é uma folha de tamanho comum, completamente lisa como as que vêm nos pacotes que compramos.
O que podemos dizer sobre a geometria desta folha?
Não possue dobras, não possue ondulações ou curvas nem amassados.
Esta folha tem portanto:
Dobras = 0
Curvas = 0
Amassados = 0

Para todos os fins que seguem, esta folha tem zero dimensões.
Agora imaginemos fazer uma simples dobra nesta folha.
Esta dobra pode ser feita em qualquer posição da folha assim como em qualquer ângulo giratório sobre a superfície.
A primeira dobra obedece a apenas dois parâmetros: Posição e ângulo.
Mesmo assim, quantas possibilidades temos para apenas uma única dobra?
O círculo é dividido em 360º, cada grau em 60' e cada minuto em 60''.
Esta dobra pode ter, então, 60 x 60 x 360 = 12.960.000 de ângulos possíveis. Claro que pode ter muitos mais, mas para nosso exemplo esta divisão arbitrária é suficiente.
Também pode ocorrer em muitas posições diferentes sobre a folha e pode ser feita sobre cada ponto da folha arbitrariamente distintos.
Uma folha ordinária A4 tem 210 mm de largura e 297 mm. Vamos dividir os milímetros por dez numa escala ainda manipulável.
Temos então 2100 x 2970 = 6.237.000 de ponto possíveis para aplicarmos a nossa dobra.
Multiplicando o número de ângulos pelo número de pontos temos 80.831.520.000.000 ( 80,83154 x 10^12) possíveis configurações de uma única dobra em uma folha de nosso papel especial.
Agora nossa folha possue um dobra e uma dimensão.
Segundo a teoria das cordas, existem 10 dimensões espaciais e 1 temporal.
Assim, se fizermos 10 dobras em nossa folha teremos 1,190713988805941 x 10^139 configurações possíveis para a folha de papel.
Na verdade o número não é exatamente este, mas para nosso propósito basta como exemplo de ordem de magnitude.
O mesmo raciocínio pode ser aplicado quando curvamos o papel de vários modos diferentes. e com múltiplas curvas diferentes.
Agora imaginemos que podemos amassar esta folha de modo aleatório aplicando força, direção, dobras e curvas diferentemente. Quantas configurações possíveis existem para se amassar o papel?
Considerando os limites e as dimensões da nossa folha podemos inferir um número finito próximo de 10^500.

Agora vem a parte mais interessante.
Para todas estas vastíssimas possibilidades estatísticas, existe um, e apenas um, caso particular deste que é neutro ou nulo:
A folha absolutamente plana.
A folha plana é somente um dos muitos estados de dobras, curvaturas e amassos que neste caso equivalem todas a zero.
O mais interessante ainda é que a soma de todas as dobras, curvas e amassos possíveis, em qualquer dos estados possíveis é sempre zero.
Liso ou não, o papel, tem sempre zero como soma de estado total.

A configuração do nosso universo é análoga a uma das possibilidades de configurações de uma folha de papel.
Em nosso universo, as cordas foram "amassadas" de tal modo que permitem a existência de espaço tridimensional, tempo, matéria e energia.

Podemos deduzir que vivemos em um dos inúmeros universos possíveis e que os universos existem porque frente a tamanha diversidade de possibilidades de estados de existência, o não-existir - o equivalente a nossa folha totalmente plana-, é apenas um único e solitário caso.
A existência não depende da criação. Depende muito mais favoravelmente da simples estatística.

domingo, 10 de junho de 2012

A política nos fóruns ou o efeito (tribal) manada.


Os macacos continuam os mesmos. Fazem alianças, coçam as costas uns dos outros e massacram os “inimigos”.
Quem se der o trabalho de estudar Etologia verá que os humanos são mais símios que qualquer outra coisa.
Com exceção da linguagem, que os torna mais tagarelas e nem por isso mais inteligentes, comportam-se exatamente como nossos primos chimpanzés, gorilas e bonobos.
Repetem, por ignorância de sua própria natureza, o mesmo comportamento simiesco e tribal de afagar seus pares enquanto combatem seus adversários. Grupamentos genéticos semelhantes, graus de parentesco agregam ou afastam os macacos.
Evoluímos.
Hoje nos agregamos em nossas igrejas, nossas ideologias, nossas academias e todas as nossas outras crenças tribais sofisticadas que compartilhamos, mas não deixamos de execrar o diferente, o dissidente, o herege. Emocionalmente rejeitamos o que contesta nossas amadas crenças e nossos interesses,  com seus respectivos e derivados laços tribais.
Sejam quais forem - partidos políticos, religiões, times esportivos, clubes ou profissões - as identidades culturais de qualquer ordem reforçam estes laços. Nosso conforto emocional primata, de coçarmos as costas e alisarmos as crenças uns dos outros, está na raiz de nossas guerras mais brutais, mais racionalizadas e mais destrutivas. Mesmo quando nosso sofrimento é excruciante pela perda do que amamos, justificamo-lo como o sacrifício necessário que temos que pagar para garantir a integridade de nossas ilusões.
Sacrificamos tudo porque não aceitamos a consciência de que somos apenas macacos ignorantes que desceram das árvores para trepar, ambiguamente, uns nas costas dos outros. Prontos para amar, prontos igualmente para matar.
Traiçoeiramente.
Este comportamento primata podemos verificar na maior Ágora jamais vista, a internet. O que nos conecta apenas acaba por nos dividir ainda mais em tribos cada vez maiores de acordo com nossas falsas necessidades de segurança e conforto, de conveniências e interesses. Nos fóruns da internet, “tudo se repete, ô maninha, como antigamente”.
O eterno retorno do macaco que se imagina super-homem. E o símio digitaliza e universaliza sua estupidez.
Admirável mundo velho.