segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Economistas de Praia.

Você está sentado na praia. Começa a observar as ondas, os padrões que elas formam, como mudam com o vento e as fases da Lua. Ainda aprende a relacionar essas mudanças com o calendário. As ondas sobem e descem, em maior ou menor escala, mais rápidas ou mais lentas. Você começa a fazer os gráficos desses movimentos e a partir deles previsões sobre o comportamento futuro do mar. Você fica feliz com o conhecimento que você adquiriu desta maneira astuciosa. Resolve então registrá-lo em um livro que acaba fazendo, para sua surpresa, um grande sucesso.
Você passa a ser consultado pelas pessoas que querem de algum modo tirar proveito prático de seus conhecimentos sobre o mar. Você se tornou um especialista no assunto. Os pescadores vêm consultá-lo, o pessoal do ramo de hotelaria quer saber os melhores pontos da praia para investir, até mesmo os ambulantes vêm conversar com você. Enfim, uma celebridade.
Então, sem qualquer aviso, impossível de ser previsto até mesmo por você, o especialista, um maremoto atinge e destroça a praia e todos aqueles que seguiram seus conselhos. E você, atônito mas vivo porque nesse dia não estava lá, foi chamado a dar explicações sobre o "fenômeno". Você vai tentar esclarecer aquilo baseado em suas observações. Ficará o resto de sua vida dando satisfação sobre o que nunca foi capaz de compreender. Você não sabia nada sobre a formação das correntes marítimas - poderosas e invisíveis - ou sobre geologia do fundo do mar. Tudo o que você sabia se resumia a uma coleção de observações sobre os movimentos superficiais das águas oceânicas. Seu empirismo se contentava em relacionar os fenômenos ondulatórios apreendidos à beira-mar.
Você sem querer acabou entrando para um grupo chamado de "Economistas de Mercado", cheio de gente que, como você, se especializou na análise cientificamente rigorosa das marés e marolas.
Assim como você, jamais compreenderam que o Mar tem uma História resultante de forças imensas, incontroláveis e muitas vezes invisíveis para quem fica na somente na areia.
Continuarão dando suas explicações superficiais mesmo depois de o Sertão virar Mar e o Mar virar Sertão. Vão pregar no deserto somente porque lá também tem areia, esperando que um dia o mar volte com suas ondas e reconstitua a praia.
Fim da historinha. Começa a História.

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