Uma Versão Sintética.
As raízes dessa crise estão em 1973, quando Nixon acabou com o lastro em ouro do Dollar.
A economia americana passou crescer com a criação artificial de moeda - base monetária - através da expansão de papéis financeiros de todos os tipos. Enquanto isso, as empresas pagavam salários cada vez menores aos trabalhadores americanos, abaixo do crescimento da produtividade. A era do neo-liberalismo dava as caras com a desregulamentação econômica, a desestruturação dos sindicatos e as privatições. Milton Friedman pregava "o mercado eficiente" e a saída do estado dos negócios. Exemplo disso é a expansão vertiginosa de empresas tipo Wallmart, o pior empregador dos EUA. Com os lucros em ascenção, as companhias aplicavam seus excedentes no mercado financeiro, que eram por sua vez emprestados aos trabalhadores em dificuldades na forma de crédito barato (habitação, cartões de crédito, leasing, etc.).
Ao crescente empobrecimento (relativo) dos trabalhadores juntou-se um sobre-peso das dívidas acumuladas. Essas dívidas por sua vez retornavam ao mercado financeiro como derivativos recebíveis que eram reempacotados na forma de novos papéis oferecidos aos investidores. Havia uma permanente reciclagem das dívidas. Dívidas antigas eram quitadas com a tomada de novos empréstimos de valor maior, independente da capacidade de pagamento (a essa altura completamente exaurida) do tomador final.
Esse processo levou a quebra, nos anos 80, do sistema americano de poupança (equivalente da nossa caderneta de poupança) como mostra a trajetória de Michael Milken, precursor e professor do momento que vivemos. A era Yuppie foi marcada pelo aperfeiçoamento e automação de práticas financeiras cujo resultado foi o aumento progressivo da alavancagem - exposição - das companhias financeiras. Acelerou-se e ampliou-se a reciclagem de papéis agora em escala global.
As dívidas originais nunca foram pagas, mas somente recicladas com novos empréstimos, numa espiral ascendente, cada vez maior e mais rápida - mais profissionalizada.
O papel dos operadores no mercado financeiro (intermediários) foi determinante no processo porque eram remunerados pelo volume de operações, pela quantidade de ativos acrescentados aos balanços. Polpudas comissões criaram uma nova casta de administradores de carteiras, para quem não importava a qualidade ou origem dos papéis, desde que encontrassem alguém disposto a investir neles. Faziam operações cada vez mais arriscadas pensando primeiro em suas comissões e depois nas consequências. Reservas financeiras de todos os tipos, a exemplo dos fundos de pensão, foram drenadas para dentro do vórtice alimentando ainda mais o processo.
O montante de capital assim administrado cresceu geometricamente o que aumentou a oferta de crédito. Era preciso encontrar novos tomadores de empréstimos para manter a ciranda circulando. Foi uma época de crédito farto e barato no mundo todo e muitas empresas beberam nessa fonte. Além disso, foram incluídos nas pontas das linhas de crédito aqueles cuja solvência ou era duvidosa ou era simplesmente nula. O caso das hipotecas subprime é a parte mais exposta de uma crise que tem como causa efetiva a imensa e insolúvel dívida privada do povo americano. A combinação de baixos salários históricos com o aumento exponencial do grau de endividamento das famílias trouxe a economia americana à insolvência pela interrupção do processo de reciclagem de crédito. O limite chegou quando não foram encontrados novos tomadores de empréstimo.
As hipotecas não foram pagas, os papéis nelas apoiados perderam valor, a oferta de imóveis aumentou pela execução das hipotecas pelos bancos, o preço dos imóveis caiu também pela falta novos compradores, devalorizando ainda mais os derivativos, que desinflaram os balanços, esvaziaram as carteiras e assim por diante. É como se o processo ocorrido ao longo de todo esse tempo tivesse invertido seu movimento num refluxo onde os efeitos se antecedem as causas.
A crise é histórica, levou muito tempo sendo construída e foi empurrada para um futuro que agora chegou. Não é uma crise de liquidez mas de solvência, para a qual não há solução dentro do mercado. A capacidade de pagamento das famílias precisa ser recuperada pela distribuição dos ganhos de produtividade atingidos ao longo desse período na forma de salários maiores. A maior parte dessas dívidas deverá ser perdoada ou renegociada com descontos expressivos devolvendo a solvência à economia. Levará tempo. Muito tempo.
Marroni
As raízes dessa crise estão em 1973, quando Nixon acabou com o lastro em ouro do Dollar.
A economia americana passou crescer com a criação artificial de moeda - base monetária - através da expansão de papéis financeiros de todos os tipos. Enquanto isso, as empresas pagavam salários cada vez menores aos trabalhadores americanos, abaixo do crescimento da produtividade. A era do neo-liberalismo dava as caras com a desregulamentação econômica, a desestruturação dos sindicatos e as privatições. Milton Friedman pregava "o mercado eficiente" e a saída do estado dos negócios. Exemplo disso é a expansão vertiginosa de empresas tipo Wallmart, o pior empregador dos EUA. Com os lucros em ascenção, as companhias aplicavam seus excedentes no mercado financeiro, que eram por sua vez emprestados aos trabalhadores em dificuldades na forma de crédito barato (habitação, cartões de crédito, leasing, etc.).
Ao crescente empobrecimento (relativo) dos trabalhadores juntou-se um sobre-peso das dívidas acumuladas. Essas dívidas por sua vez retornavam ao mercado financeiro como derivativos recebíveis que eram reempacotados na forma de novos papéis oferecidos aos investidores. Havia uma permanente reciclagem das dívidas. Dívidas antigas eram quitadas com a tomada de novos empréstimos de valor maior, independente da capacidade de pagamento (a essa altura completamente exaurida) do tomador final.
Esse processo levou a quebra, nos anos 80, do sistema americano de poupança (equivalente da nossa caderneta de poupança) como mostra a trajetória de Michael Milken, precursor e professor do momento que vivemos. A era Yuppie foi marcada pelo aperfeiçoamento e automação de práticas financeiras cujo resultado foi o aumento progressivo da alavancagem - exposição - das companhias financeiras. Acelerou-se e ampliou-se a reciclagem de papéis agora em escala global.
As dívidas originais nunca foram pagas, mas somente recicladas com novos empréstimos, numa espiral ascendente, cada vez maior e mais rápida - mais profissionalizada.
O papel dos operadores no mercado financeiro (intermediários) foi determinante no processo porque eram remunerados pelo volume de operações, pela quantidade de ativos acrescentados aos balanços. Polpudas comissões criaram uma nova casta de administradores de carteiras, para quem não importava a qualidade ou origem dos papéis, desde que encontrassem alguém disposto a investir neles. Faziam operações cada vez mais arriscadas pensando primeiro em suas comissões e depois nas consequências. Reservas financeiras de todos os tipos, a exemplo dos fundos de pensão, foram drenadas para dentro do vórtice alimentando ainda mais o processo.
O montante de capital assim administrado cresceu geometricamente o que aumentou a oferta de crédito. Era preciso encontrar novos tomadores de empréstimos para manter a ciranda circulando. Foi uma época de crédito farto e barato no mundo todo e muitas empresas beberam nessa fonte. Além disso, foram incluídos nas pontas das linhas de crédito aqueles cuja solvência ou era duvidosa ou era simplesmente nula. O caso das hipotecas subprime é a parte mais exposta de uma crise que tem como causa efetiva a imensa e insolúvel dívida privada do povo americano. A combinação de baixos salários históricos com o aumento exponencial do grau de endividamento das famílias trouxe a economia americana à insolvência pela interrupção do processo de reciclagem de crédito. O limite chegou quando não foram encontrados novos tomadores de empréstimo.
As hipotecas não foram pagas, os papéis nelas apoiados perderam valor, a oferta de imóveis aumentou pela execução das hipotecas pelos bancos, o preço dos imóveis caiu também pela falta novos compradores, devalorizando ainda mais os derivativos, que desinflaram os balanços, esvaziaram as carteiras e assim por diante. É como se o processo ocorrido ao longo de todo esse tempo tivesse invertido seu movimento num refluxo onde os efeitos se antecedem as causas.
A crise é histórica, levou muito tempo sendo construída e foi empurrada para um futuro que agora chegou. Não é uma crise de liquidez mas de solvência, para a qual não há solução dentro do mercado. A capacidade de pagamento das famílias precisa ser recuperada pela distribuição dos ganhos de produtividade atingidos ao longo desse período na forma de salários maiores. A maior parte dessas dívidas deverá ser perdoada ou renegociada com descontos expressivos devolvendo a solvência à economia. Levará tempo. Muito tempo.
Marroni